Em 2023, o Brasil atingiu a menor taxa dos últimos 10 anos ao registrar o número de jovens entre 15 e 29 anos que não estudam nem trabalham, um fenômeno conhecido como “nem-nem”, desde o início da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2012. O total de 10,3 milhões de brasileiros nessa condição corresponde a 21,2% da população dessa faixa etária, o que representa uma melhoria, mas ainda reflete desafios persistentes, principalmente entre grupos mais vulneráveis.
Os dados fazem parte da Síntese de Indicadores Sociais, divulgada recentemente pelo IBGE, e mostram que o aquecimento do mercado de trabalho e o aumento do número de jovens nas escolas, especialmente no contexto pós-pandemia, foram fatores determinantes para essa redução no número de jovens “nem-nem”.
Apesar do avanço, a pesquisa revela que as mulheres e os jovens de famílias mais pobres ainda são os mais afetados por essa situação. Em particular, mulheres negras ou pardas enfrentam as maiores dificuldades de inserção no trabalho e nos estudos. Em 2023, 4,6 milhões dessas jovens estavam sem estudo e trabalho, representando 45,2% do total, o maior percentual já registrado na série histórica. Essa categoria apresentou uma queda de apenas 1,6% em comparação com 2022. Por outro lado, as mulheres brancas tiveram uma redução de 11,9% no mesmo período, com o número de jovens nessa condição caindo para 1,9 milhão. Já os homens pretos ou pardos apresentaram uma queda de 9,3%.
O IBGE aponta que as mulheres, especialmente as negras e pardas, continuam a ser maioria entre os “nem-nem” devido a fatores culturais e estruturais que vão além da simples situação do mercado de trabalho. Segundo o instituto, os afazeres domésticos e os cuidados com parentes são os principais motivos que impedem muitas mulheres de se inserirem no mercado de trabalho ou de continuarem seus estudos. Essas responsabilidades, muitas vezes, não são compartilhadas igualmente entre os membros da família, o que gera desigualdade no acesso às oportunidades de educação e emprego.
O estudo do IBGE divide os jovens “nem-nem” em dois grupos distintos: o primeiro inclui aqueles que, apesar de não estudarem, buscam trabalho e estão disponíveis para assumir uma ocupação. Já o segundo grupo é composto por jovens que, além de não estudarem, estão fora do mercado de trabalho.
Os dados revelam que, apesar de algum avanço, o Brasil ainda enfrenta grandes desafios para garantir a inclusão dos jovens, especialmente das mulheres e dos mais pobres, no sistema educacional. As desigualdades estruturais exigem políticas públicas mais eficazes para promover a inclusão social e econômica desses grupos vulneráveis.