Em um Brasil marcado por desigualdades sociais profundas, um novo estudo revelou mais um reflexo das disparidades raciais no sistema educacional. De acordo com o levantamento ‘Água e Saneamento nas Escolas Brasileiras: Indicadores de Desigualdade Racial a partir do Censo Escolar”, cerca de 1,4 milhão de estudantes estão matriculados em escolas públicas que não têm fornecimento de água tratada, própria para o consumo. A maior parte desses alunos pertence a escolas predominantemente negras, refletindo um problema estrutural que afeta principalmente as populações mais vulneráveis.
O estudo, divulgado esta semana, foi produzido pelo Instituto de Água e Saneamento e pelo Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais (Cedra), com base nos dados do Censo Escolar da Educação Básica de 2023, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A pesquisa classifica as escolas em três grupos: predominantemente negras, predominantemente brancas e mistas, com base na composição racial de seus estudantes — escolas predominantemente negras são aquelas com mais de 60% de alunos autodeclarados negros, enquanto escolas predominantemente brancas possuem mais de 60% de alunos brancos.
O levantamento revela que a chance de um aluno estar em uma escola de predominância negra que não fornece água potável é cerca de sete vezes maior em comparação a uma escola de predominância branca. Do total de 1,2 milhão de estudantes sem acesso a água tratada nas escolas, 768,6 mil estão em escolas predominantemente negras, 528,4 mil em escolas mistas, e 75,2 mil em escolas predominantemente brancas.
Além do fornecimento de água, o relatório também investigou outros aspectos fundamentais de infraestrutura, como o acesso a banheiros adequados, coleta de lixo e sistemas de esgoto nas escolas. O resultado é igualmente alarmante. Em escolas predominantemente negras, 52,3% dos alunos enfrentam a falta de pelo menos um dos serviços ou infraestrutura de saneamento básico, como água, esgoto ou banheiro. Esses dados refletem um problema estrutural no país, em que a desigualdade racial está intrinsecamente ligada à desigualdade no acesso a serviços públicos de qualidade, como água, saneamento e infraestrutura escolar.
O estudo aponta que é urgente que o governo e as autoridades locais invistam na melhoria da infraestrutura das escolas públicas, especialmente nas regiões mais vulneráveis e nas escolas com maior concentração de estudantes negros. Além disso, é essencial que o sistema educacional, por meio de seus gestores e educadores, promova a conscientização sobre as desigualdades raciais e busque soluções para superar esse panorama de exclusão. Garantir um ambiente escolar saudável e seguro para todos os alunos é um passo fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.