No dia 25 de novembro, o mundo se une para lembrar e combater uma das maiores injustiças sociais da atualidade: a violência contra as mulheres. Esta data, instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1999, carrega o desafio de chamar a atenção para a grave situação de milhares de mulheres que sofrem agressões físicas, psicológicas, sexuais e outras formas de abuso, muitas vezes dentro de seus próprios lares ou em ambientes que deveriam ser seguros.
Ao ler esta reportagem, é possível que você se visualize em um dos cenários: o de vítima ou agressor (a). A violência não se restringe apenas aos casos de agressão física. O assédio moral, uma forma de abuso psicológico, é uma das manifestações mais silenciosas e cotidianas da desigualdade de gênero. No ambiente de trabalho, por exemplo, mulheres frequentemente enfrentam situações de desvalorização, como a desigualdade salarial, desrespeito e humilhação, simplesmente por serem mulheres.
A socióloga, professora A.S, como prefere ser identificada, 51 anos, mãe e mulher negra, conta que já sofreu assédio moral e outros tipos de violência pela condição de ser mulher. “Recordo duas situações: clarões de lembranças da memória iluminam meus olhos. Da primeira infância, recordo o assédio sexual e o estupro. São marcas bem profundas em minha vida. A segunda situação ocorreu em um restaurante, onde estive sentada em uma mesa, esperei por 30 minutos e não fui atendida. O ambiente não estava tão cheio. Perguntei-me se aquilo aconteceu por ser mulher ou por ser negra, em pleno século XXI”, desabafa.
A Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180), serviço do governo federal, recebeu em 2023 mais de 60 mil denúncias de assédio e violência contra mulheres, incluindo casos de assédio moral e psicológico em diversos contextos, como no trabalho e em espaços públicos. Segundo dados do Tribunal Superior do Trabalho (TST), houve um aumento de 20% no número de ações trabalhistas relacionadas a assédio moral nos últimos cinco anos, com a maioria das vítimas sendo mulheres.
A violência contra a mulher é uma questão profundamente enraizada em desigualdades estruturais e culturais. Embora o avanço em políticas públicas e leis tenha sido significativo, ainda há muito a ser feito. Nos ambientes escolares, a falta de uma educação integral que valorize a diversidade de gênero e a equidade pode ser uma das raízes dos comportamentos agressivos. Ao abordar questões de gênero e direitos humanos de maneira clara, desde os primeiros anos de vida, é possível promover uma mudança de mentalidade nas novas gerações, criando um futuro em que a violência contra as mulheres não seja mais aceitável.
Para a professora ouvida pela Comunicação do Sinte, qualquer mudança passa pela educação. Ela ressalta que não basta uma lei que condene o feminicídio ou que equipare a remuneração salarial entre homens e mulheres no mesmo cargo e função. “Nesta terça-feira (26), receberemos em sala de aula, na Escola Abel Coelho, uma professora da Faculdade de Serviço Social – UERN com alunas, para uma intervenção em alusão ao Dia de Combate à Violência Contra a Mulher. Muitas vezes, nós, mulheres, não percebemos que estamos sofrendo violência. A escola cumpre um papel importante e relevante para mudar essa realidade”, afirma.
Incluir a educação sobre gênero, sexualidade, respeito à diversidade e igualdade nas escolas pode ajudar a criar ambientes mais seguros e acolhedores para meninas e mulheres, promovendo um espaço em que possam se desenvolver plenamente. Somente por meio de uma educação que valorize todos de forma igualitária, sem distinções baseadas em gênero, será possível erradicar a violência de gênero e garantir um futuro onde as mulheres possam viver sem medo, com as mesmas oportunidades e direitos que os homens.
Neste 25 de novembro, o Dia Mundial de Eliminação da Violência Contra as Mulheres não é apenas um dia de reflexão. É um convite para que todos repensem atitudes, práticas e se comprometam com a construção de um mundo mais justo e de oportunidades para todos.