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Lobby do Agronegócio nos Livros Didáticos: Desafios para uma Educação Crítica

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Nos últimos anos, o agronegócio tem intensificado sua influência nas salas de aula por meio do lobby de livros didáticos. Nesta semana, diversos veículos de comunicação noticiaram o evento do grupo Lide, em que o vice-presidente da Associação De Olho No Material Escolar (Donme), Christian Lohbauer, teceu críticas a respeito do conteúdo dos livros didáticos, afirmando que não deveriam apresentar informações referentes ao trabalho escravo na produção de cana de açúcar, ou a responsabilização do agronegócio pelo desmatamento. O grupo tem buscado influenciar e alterar o conteúdo didático para apresentar o agro de forma mais “positiva”. A Donme foi fundada há três anos e até então, tem recebido apoio de empresas do setor do agro, e conseguido abrir espaço na esfera política, e com isso tenta influenciar o novo Plano Nacional de Educação.

Essa situação desperta preocupações entre educadores e especialistas, que alertam para os perigos que essa manipulação pode representar para a formação crítica dos estudantes. De acordo com o Economista, doutor em Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e professor da UERN, Emanoel Nunes, “não é para o agronegócio intervir nas questões que envolvem a educação. Da mesma maneira que a educação não deve ser militante. O agro tem o lado bom da geração de riquezas, mas tem a parte que precisa ser revista, que diz respeito ao modelo exploratório, predatório e excludente, capaz de gerar desigualdades” afirma o professor.

Com a crescente presença do agronegócio nas escolas, especialmente em disciplinas como Ciências e Geografia, materiais didáticos frequentemente trazem uma visão distorcida da realidade, exaltando práticas agrícolas sem considerar suas implicações sociais e ambientais, o que pode limitar a compreensão dos alunos sobre questões como sustentabilidade e direitos humanos. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, o Brasil lidera com folga o ranking de consumo de pesticidas, quando considerados os dez países com as maiores áreas de lavoura. A média brasileira é de mais de 12 kg aplicados por hectare.

Para o professor Emanoel, “parte do agronegócio atua por uma lógica predatória de exploração da força de trabalho humana, da própria terra, e dos animais. O agro gera riquezas, mas é uma riqueza construída a partir do dinheiro público; um exemplo disso é a lei Kandir, criada em 1996 na época de Fernando Henrique Cardoso, que isenta todos os produtores de commodities do agronegócio, enquanto a União compensa o Estado pagando o ICMS, para que o produtor possa ficar livre do imposto”, reforça.

Com o lobby dos livros didáticos, um dos principais riscos é a formação de uma geração que desconhece as consequências do agronegócio desmedido. A visão unilateral apresentada nos livros pode impedir que os estudantes desenvolvam um pensamento crítico e autônomo, essencial para que se tornem cidadãos conscientes e capazes de questionar práticas prejudiciais. “O agronegócio na verdade não produz alimento, produz matéria prima. E a intervenção no conteúdo didático, é um ponto extremamente equivocado. Já na década de 70, o setor conseguiu implantar algo parecido, ao criar os defensores da modernização da agricultura”, conclui o professor.

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