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Professora com deficiência desafia estatísticas e mostra que educação inclusiva é o melhor caminho

Sumário

Marta Maia é professora aposentada da rede pública e uma mulher com deficiência que enfrentou, desde cedo, os efeitos cruéis do preconceito no ambiente escolar. Sua trajetória começou marcada pela exclusão ainda na alfabetização, quando, na formatura do ABC, ninguém quis dançar com ela. “A professora teve uma estratégia e conseguiu um par”, relembra. A infância seguiu com exigências que ignoravam suas limitações motoras, como a cobrança por uma caligrafia perfeita, mesmo com os impactos dos problemas neurológicos. Cada etapa escolar foi marcada por resistência e luta contra a invisibilidade imposta a pessoas com deficiência.

“Os problemas de saúde e cirurgias me afastavam de sala de aula. Porém, não desisti e fui fazer o magistério, queria ser professora.” Já na universidade, cursando pedagogia, o preconceito também deu as caras. “Você não tem coesão e coerência nos textos”, chegou a ouvir de uma docente. Apesar disso, Marta persistiu. Passou em um concurso público da Prefeitura e fez um juramento silencioso: nenhum aluno sob sua responsabilidade passaria pelo que ela passou. Com mais de 30 anos de serviço, Marta se aposentou com a honra de ter feito da sala de aula um espaço de acolhimento, dignidade e inclusão.

Marta Maia é uma mossoroense fora da curva. Os dados recentes do Censo Demográfico de 2022, divulgados recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que a taxa de analfabetismo entre pessoas com deficiência com 15 anos ou mais alcança 21,3%. Esse índice é quatro vezes maior do que o registrado entre a população sem deficiência na mesma faixa etária, que é de 5,2%. Em números absolutos, isso significa que 2,9 milhões de brasileiros com deficiência não sabem ler nem escrever.

Essa disparidade não para por aí. Quando se observa o nível de escolarização, a distância entre pessoas com e sem deficiência é ainda mais gritante. De acordo com o IBGE, 63,1% das pessoas com deficiência com 25 anos ou mais não possuem instrução formal ou não completaram o ensino fundamental. Entre os brasileiros sem deficiência, esse índice cai para 32,3%. Quando se trata de ensino superior completo, apenas 7,4% das pessoas com deficiência chegaram ao diploma universitário, frente a 19,5% daquelas sem deficiência.

O que os dados do IBGE revelam é mais do que uma crise na educação: revelam a persistência de um modelo excludente, que falha em oferecer oportunidades reais para todos. Enquanto milhões continuarem fora das salas de aula, ou dentro delas sem aprender, o país seguirá ensinando que há vidas que valem menos. E isso é algo que uma sociedade democrática jamais pode aceitar.

Que mais pessoas como Marta possam ter acesso à educação de qualidade. “Minha família acreditou em mim. Encontrei forças pra continuar”, conclui. É preciso que o poder público também acredite e aponte estratégias para vencer o analfabetismo e as desigualdades na educação das pessoas com deficiência.