“Não existe idade pra aprender e mergulhar no conhecimento.” É com essa frase que Carlos Azevedo, de 56 anos, resume o novo capítulo da vida. Estudante da Educação de Jovens e Adultos (EJA), o mossoroense decidiu retomar os estudos décadas após ter deixado a sala de aula. Agora, corre contra o tempo não apenas para concluir o ensino médio, mas para realizar o sonho de ingressar no ensino superior e se formar em Psicologia ou Publicidade.
Carlos é um dos rostos por trás de um fenômeno que os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), do IBGE, ajudam a explicar: a queda no analfabetismo, especialmente no Nordeste, onde a persistência por parte das desigualdades sociais e educacionais ainda predomina.
“Descobri que sou bom em matemática, e até a memória melhorou”, conta animado, enquanto projeta novos planos. Sua história não é exceção, mas representa uma mudança silenciosa e gradual que vem ocorrendo em regiões historicamente marcadas por altos índices de exclusão educacional.

De acordo com os dados mais recentes da PNAD, pesquisa divulgada recentemente pelo IBGE, entre 2016 e 2024, a taxa de analfabetismo no Rio Grande do Norte caiu de 13,8% para 10,4%. No entanto, a diferença entre homens e mulheres ainda permanece. Em 2024, a taxa de analfabetismo entre os homens (13,5%) foi quase o dobro da registrada entre as mulheres (7,7%).
O Nordeste como um todo também apresentou uma redução significativa: de 13,9% em 2016 para 11,1% em 2024, com as mulheres puxando essa queda. Nacionalmente, a taxa de analfabetismo entre pessoas com 15 anos ou mais ficou em 5,3%, mantendo a tendência de queda dos últimos anos, em 2016, esse índice era de 6,7%.
No entanto, a desigualdade etária é gritante. Enquanto a média nacional foi de 5,3%, entre pessoas com 60 anos ou mais a taxa subiu para 14,9%. No Nordeste, essa discrepância é ainda mais evidente: 30,7% dos idosos ainda são analfabetos. No Rio Grande do Norte, apesar da redução, o número entre os idosos continua alto, embora tenha caído de 38,7% para 27,8% entre 2016 e 2024.
Para o professor e historiador Márcio Emanoel, que atua no EJA, esses dados reforçam um problema estrutural que atinge especialmente a nossa região. “Apesar de muitos avanços, é preciso enraizarmos a cultura da educação com investimento público para rompermos com essa realidade. Pensando nas últimas décadas, avançamos, mas ainda existe uma lentidão. É preciso um olhar mais profundo para a educação no âmbito do Nordeste”, afirma.
O fato é que, enquanto as políticas públicas caminham entre avanços e desafios, histórias como a de Carlos reafirmam o papel fundamental da educação em todas as fases da vida e, o quanto ela ainda é uma dívida a ser quitada com milhões de brasileiros.