Historicamente, a contribuição africana foi invisibilizada e muitas vezes associada a estigmas de marginalização. Durante séculos, o Brasil recebeu milhões de africanos como escravizados, e suas culturas foram reprimidas. Esse legado de opressão ainda ressoa na sociedade contemporânea, evidenciado pela desigualdade racial e pela luta constante por reconhecimento e respeito.
Um dos principais caminhos para reescrever essa narrativa é a educação. A inclusão da história e da cultura africana nos currículos escolares é essencial para promover uma compreensão mais profunda da diversidade cultural brasileira. Apesar de avanços, muitos professores ainda sentem que existe uma lacuna para abordar esses temas de forma crítica e contextualizada. Para o historiador José Bino, que esteve 41 anos em sala de aula, a escolha do tema da redação do Enem, “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil” carrega um grande significado para a história do povo brasileiro, ao reconhecer e valorizar a história e a cultura de africanos que foram forçados a vir para o Brasil na condição de escravizados, “não houve convite, o que aconteceu foi captura, violência”, revela.
De acordo com o professor José Bino, diversas leis já existem, como a Lei N° 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que define os crimes de raça e de cor; Lei N° 12.288/2010, que institui o Estatuto da Igualdade Racial, Lei N° 14.532/2003, que equipara Injúria Racial com crime de Racismo. Além disso, a Lei N° 10.639/2003 obriga as escolas de Ensino Fundamental e Médio a ensinarem sobre a história e Cultura afro-brasileira. “Mesmo sendo normas, não são postas em prática. Dessa forma, é fundamental que as escolas adotem uma abordagem que valorize a contribuição africana, não apenas como um capítulo da história, mas como parte integrante da identidade brasileira”, reforça.
O educador vai mais além e sugere que a educação no ambiente familiar seja uma ferramenta essencial. “O racismo, a injúria racial e o bullying nas escolas nos mostram que o ambiente escolar não está conseguindo lidar com essa situação de forma adequada. Temos todas as ferramentas com o amparo da lei; o que nos falta, então?”, indaga. Para ele, o que realmente falta é conhecer nossa história, nossa ancestralidade, e nossas origens.
A valorização da herança africana no Brasil é um processo que demanda compromisso e colaboração de todos os setores da sociedade. Reconhecer e celebrar essa riqueza cultural não é apenas uma questão de justiça histórica, mas uma necessidade para a construção de um Brasil mais plural e igualitário. A superação dos desafios requer um esforço conjunto que envolva educação, família, políticas públicas e, acima de tudo, a vontade de transformar a realidade social.
